As casas de Oscar Niemeyer


Tão vitais quanto os palácios foram as residências...

Oscar Niemeyer  há de ser lembrado para sempre como arquiteto de edificações monumentais – palácios, catedrais, museus, parques –, mas seu vasto legado atesta que não só o grandioso o interessava. As mesmas curvas e formas sinuosas que ele usou para levar o modernismo a um patamar inimaginável foram aplicadas em diversos projetos residenciais, com o mesmo espírito livre e revolucionário. Muitas vezes até, antecipando características que apareceriam depois nos edifícios públicos.

A mais conhecida, claro, é a Casa das Canoas, projetada para ser sua própria morada no bairro carioca de São Conrado, e uma das grandes responsáveis pelo sucesso de Niemeyer fora do Brasil. Mas há uma extensa lista de residências no currículo do arquiteto, nomeadas de acordo com os respectivos proprietários: Juscelino Kubitschek, Cavalcanti, Francisco Pignatari, Darcy Ribeiro, Anne e Joseph Strick, Orestes Quércia. Em todas elas, o arquiteto priorizou a perfeita implantação na topografia e sua integração com a paisagem. Várias possuem painéis e jardins de gente do calibre de Athos Bulcão e Burle Marx.

Niemeyer nunca deu às casas que projetou o mesmo valor das construções públicas, fruto, talvez, de sua declarada orientação política comunista, em que obras pensadas para o coletivo são sempre mais importantes do que aquelas feitas para indivíduos. Arquitetonicamente, no entanto, casas oferecem um terreno mais livre para experimentações. E foi experimentando que Niemeyer forjou seu estilo – do modernismo aprendido com Le Corbusier à mistura com as influências do período colonial brasileiro, que culminou na supremacia da curva feita de concreto.

  (Foto: Alan Weintraub)

“Tudo começou quando iniciei os primeiros estudos de Pampulha – minha primeira fase – desprezando deliberadamente o ângulo reto e a arquitetura racionalista feita de régua e esquadro, para penetrar corajosamente nesse mundo de curvas e retas que o concreto oferece”, disse o mestre numa antiga entrevista. “Devo confessar também que quando comecei os meus projetos em Brasília (1956), eu já estava cansado de dar tantas explicações. Eu sabia que tinha experiência para ser livre, e não me importavam as críticas inevitáveis contra meus projetos”.

  (Foto: Alan Weintraub)
 
  (Foto: Alan Weintraub)
 
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  (Foto: Alan Weintraub)
 
  (Foto: Alan Weintraub)
 
  (Foto: Alan Weintraub)
 
  (Foto: Alan Weintraub)
 
  (Foto: Alan Weintraub)
 
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  (Foto: Alan Weintraub)
 
  (Foto: Alan Weintraub)
 
  (Foto: Alan Weintraub)
 
  (Foto: Alan Weintraub)

Via Vogue

Oscar Niemeyer: o desconhecido idealizador de casas

Repercurtido no mundo todo, o falecimento desse grande ícone brasileiro, o arquiteto Oscar Niemeyer, morreu nesta quarta, 05 de dezembro, aos 104 anos. Apreciador das curvas em detrimento das formas retas que caracterizam a arquitetura tradicional, ele estava internado desde 02 de novembro. dias no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. Niemeyer faria 105 anos no dia 15 de dezembro.

Um dos lados menos conhecidos do arquiteto - o de idealizador de casas - ganhou luz recentemente com o lançamento do livro "Oscar Niemeyer: Casas" (Editora GG Brasil), com mais 300 fotos e desenhos de projetos. A publicação reúne ainda citações suas. "O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, nos cursos sinuosos dos seus rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher amada", disse, certa vez.

Oscar Niemeyer. Casas é o primeiro livro dedicado unicamente aos projetos, construídos ou não, das casas de Niemeyer. Suas casas dividem-se em três fases, por meio das quais percebemos suas primeiras influencias da arquitetura de Le Corbusier e Lúcio Costa, suas referências coloniais brasileiras e a evolução de seu estilo arquitetônico único, em que o arquiteto assumiu uma crescente liberdade formal fazendo uso da plasticidade do concreto armado. Pouco interessado na produção de sua arquitetura em larga escala, Niemeyer preocupa-se mais com a perfeita implantação de suas casas na topografia do lugar e com sua integração com a paisagem. O resultado é um conjunto de casas únicas que, complementadas pelo trabalho de Athos Bulcão e do paisagista Burle Marx, são, até hoje verdadeiras obras de arte.
Além da emblemática Casa das Canoas, este livro apresenta uma seleção de casas construídas de 1940 a 2005, que inclui exemplares pouco divulgados, como a Strick House, nos Estados Unidos, e a própria residencia do arquiteto em Brasília. Com mais de trezentas fotografias e croquis do próprio arquiteto, Oscar Niemeyer. Casas destina-se a estudantes e a todos os profissionais interessados em compreender a obra de um dos mais importantes arquitetos de todos os tempos.

Alan Hess é arquiteto e mestre em arquitetura pela University of California em Los Angeles (UCLA), onde também lecionou. É autor de diversos livros de arquitetura, entre os quais The Architecture of John Lautner (1999), The Houses of Frank Lloyd Wright (2005), Organic Architecture: The Other Modernism (2006) e Forgotten Modern: California Houses 1940-1970 (2008).